dois de março: em resposta a karen

eu nasci num dia de chuva. de muita chuva. hospital alagado. história repetida anualmente. história que entrava pelos meus ouvidos e atingia a parte mais bonita do meu corpo, que se transformava num lugar desconfortável. passei anos detestando que o meu dia fosse debaixo de tanta água - olha aí a falta de reconhecimento. e em algum ano eu pensei que seria necessário que eu fizesse as pazes com a chuva. ou melhor, que eu me abrisse pra ela. que eu me deixasse molhar. que eu sou filha da água. e foi nesse ano que a relação mudou. hoje, contemplo a chuva com olhos cuidadosos. ela cai do céu de graça, gratuita. que graça, emanação de deus. que graça, contemplação. nós somos nossa melhor experiência. vivemos à beira de tantas coisas. voltar ao passado também é estado de graça. é tempo dedicado. é tempo dedicado a um olhar pra si. troco um pouco e digo que o sofrimento pode ser a re-existência que nos traz a possibilidade de re-ver. afastar também é se dedicar. dedicação. dedicatória. primeiro, a graça. depois, as bençãos. ontem eu li um poema (tetris) lindo da eliza caetano. uma frase me puxou os olhos: então depois de tantas perdas é bonito dizer achei. 

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