Casa

I

o desconhecido me acomodava
hoje a intimidade me apavora
me distraio e a madrugada fica enorme
seus olhos anoitecidos
não imaginam que conto
passos pela casa
do quarto, catorze até a cozinha
mais cinco até a janela
no frio,
a bolsa de água quente me abre
feridas nas pernas

II

bebemos em silêncio
o último vinho
comprado no verão passado
percebemos o amor escapando
a falta de coragem das palavras
essa noite, me peguei
dormindo igual a você

III

sempre tive medo de errar
a medida do café.


IV

perdi o isqueiro pela casa
sinto um desconforto ao andar pelos cômodos
nada mais me acolhe nesse lugar
nem mesmo as palavras
ou as velhas fotografias que tiramos
no alto da serra
abraçadas